Biografia dos Santos

São Bento – 11 de Julho

Posted on: junho 12, 2010

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Nunca desesperar da Misericórdia de Deus

São Bento

Biografia de São Bento pelo Vaticano

CONGREGAÇÃO PARA OS BISPOS

 HOMILIA DO CARDEAL GIOVANNI BATTISTA RE
  POR OCASIÃO DA FESTA DE SÃO BENTO
 PADROEIRO DA EUROPA NO MOSTEIRO
BENEDITINO DE MONTECASSINO

21 de Março de 2003

 Não é sem emoção que se sobe a esta abadia, lugar de procura de Deus na oração e no silêncio, símbolo de paz e de fraternidade, mas também lugar de história e de vida cultural.Neste momento dramático em que, no coração de todos nós, há inquietação e tristeza pela guerra que ontem começou, queremos rezar por intercessão de São Bento, a fim que a Providência Divina vá ao encontro das coisas humanas:  a mão de Deus venha fazer aquilo que a mão dos homens não sabe e não pode realizar.

O pensamento volta espontaneamente no tempo, a um milénio e meio, aos tempos do aparecimento de São Bento no cenário da Itália e da Europa. Eram tempos obscuros e difíceis. Roma tinha concluído o seu curso de “caput mundi”, capital do mundo:  o Império Romano tinha terminado em 476, ou seja, alguns anos antes do nascimento de São Bento, em Núrsia (na Úmbria). Como se sabe, as províncias italianas foram invadidas pelos Godos e, em seguida, pelos Ostrogodos; a África do Norte, pelos Vândalos; a Espanha, pelos Visigodos; e a Gália, pelos Francos. As pilhagens, as mortes e as violências geravam medo e angústia nas populações. Tinha desaparecido toda a segurança social.

Amargurado com o ambiente romano, aonde tinha ido para estudar, Bento partiu em busca de solidão nos montes da Sabina e, depois, vai a Subiaco. Encontrou o monge Romano, que lhe oferece ajuda para a nova vida e lhe impôs o hábito monástico.Em Subiaco, uma fervorosa vida religiosa começou a formar-se e a receber dele o alimento. Fundaram-se vários mosteiros. O lugar último e definitivo aonde Bento chegou foi este Monte de Cassino, coberto de bosques, em cujos cumes havia um templo dedicado a Apolo,  e  em  cujo  lugar  ele  erigiu uma igreja dedicada a São Martinho de Tours.

Quando chegou aqui a Montecassino (cerca do ano de 529), onde passou os últimos onze anos da sua vida, Bento tinha o seu coração aberto exclusivamente a Deus:  a vida de oração e a superação das tentações provadas purificaram-no.Reuniu à sua volta homens, fascinados pelo testemunho da sua vida. A quem pedia para entrar no mosteiro, a pergunta que condicionava a admissão era uma só:  “Verdadeiramente procuras Deus?” (Regra 58. 7).O bom êxito da Regra de São Bento deve-se ao facto de que resume e harmoniza as duas grandes orientações presentes desde as origens do monaquismo: 

a) o ideal anacoreta, feito de ascese, solidão e oração, expressão da procura apaixonada de Deus;

b) o ideal da comunhão, da fraternidade e da ajuda recíproca no caminho rumo a Deus. No mosteiro, não havia distinção entre livres e escravos, entre nobres e plebeus. Todos eram iguais.

Esta Regra conheceu uma fama e uma difusão crescentes, em todo o Ocidente, o que significava não apenas um desenvolvimento extraordinário da vida monástica, mas também um poderoso impulso para a evangelização.Os mosteiros foram centros de irradiação do Evangelho, mas também centros de cultura, que conservavam e difundiam a cultura greco-romana, e centros que realizaram uma verdadeira promoção social.Os estudiosos da história da civilização ocidental realçam o papel que São Bento desempenhou na conservação da cultura greco-romana e na formação da cultura medieval cristã.

Na realidade, São Bento não desejava fundar um organismo para a transmissão da cultura. Ele queria que o mosteiro fosse uma pequena comunidade ideal, que vivesse segundo o Evangelho. A sua finalidade era religiosa mas, com efeito, nos mosteiros por ele fundados, ou que nele se inspiraram, a actividade cultural ocupou um lugar importante, porque a prioridade dada à “lectio divina”, à leitura do Evangelho, exigia que cada um dos monges tivesse uma escola onde ensinar os iletrados a ler e a escrever, e onde ensinar-lhes os rudimentos da cultura. Cada mosteiro procurava ter livros e códices. Copiavam-se os manuscritos antigos e traduziam-se as obras gregas. As bibliotecas dos mosteiros foram enriquecidas cada vez mais, e assim, obras do pensamento e da literatura do passado podiam ser conservadas para a posteridade.

Embora não tivessem esta finalidade directa, os mosteiros tornaram-se os mais importantes centros de elaboração e de irradiação cultural. Assim, favoreceu-se o nascimento de uma cultura, que conseguiu integrar os valores do humanismo pagão numa nova síntese cristã. E isto, precisamente quando as invasões bárbaras, com as suas devastações, eliminaram todos os vestígios de civilização.Ao mesmo tempo, os mosteiros beneditinos tornaram-se também escolas de agricultura, centros de actividade agrícola e de saneamento, bem como escolas de artes e profissões.Segundo São Bento, a vida monástica devia ser não apenas oração, penitência e ascese, ou seja, não só consagração a Deus, como alguns modelos orientais, mas também actividade e trabalho produtivo para a manutenção do mosteiro e para ajudar os indigentes e os necessitados. Esta disposição, aplicada em vasta escala em virtude da multiplicação dos mosteiros, teve uma influência positiva sobre o continente europeu.

O lema “ora et labora” (reza e trabalha) resume e exprime bem a espiritualidade beneditina, porque realiza uma feliz síntese entre oração e trabalho.Este lema foi fermento de progresso religioso e, ao mesmo tempo, civil:  a oração  e  a  meditação  davam  incentivo,  inspiração  e  entusiasmo  ao  cansaço do trabalho, às vezes muito duro, na origem das várias fundações de mosteiros.Sem  dúvida,  São  Bento  deixou  um sinal  na  história  da  Igreja  e  da  humanidade e, ainda hoje, tem muito a ensinar.São Bento e os mosteiros beneditinos tiveram um papel de primeiro plano na unificação espiritual da Europa.

Depois da queda do Império Romano, os habitantes do território do antigo Império eram cristãos, enquanto os invasores eram, em grande parte, pagãos ou arianos (como os Godos).A adesão de todos à única fé cristã foi o factor que levou à fusão entre o elemento romano e o elemento germânico-gótico.A cristianização da Europa, para a qual numerosos mosteiros beneditinos deram uma grande contribuição, levou à consciência da unidade espiritual, que serviu para unir povos profundamente diferentes entre si. As invasões e as lutas dividiram-nos e opuseram-nos, mas foi a mesma fé que os uniu.Em virtude da única fé religiosa, povos e reinos diferentes e, muitas vezes, em luta entre si, uniram-se numa mesma escala de valores. Foi assim que nasceu a civilização europeia, fundamentada no reconhecimento do primado de Deus sobre a história, e do espírito sobre a matéria.

Assim, a Europa nasceu como unidade espiritual, animada pelo cristianismo:  a Europa e o cristianismo entrelaçaram-se ao longo dos séculos, e a Europa tornou-se um farol de civilização também para os outros continentes.A São Bento e aos mosteiros que nele se inspiraram pertence o mérito de terem realizado uma síntese entre a civilização pagã e o cristianismo, aplanando o caminho para aquela que foi a “civilização medieval”.Se, à luz da mensagem que São Bento  continua  a  lançar  ao  mundo,  prestarmos atenção ao nosso tempo, em que se está a construir a União Europeia, compreenderemos como é importante a tarefa que compete aos cristãos de hoje.Obviamente, ninguém deseja basear-se no antigo modelo de cristandade, mas  o  dinamismo  e  a  fecundidade da fé  cristã  podem  oferecer  um  válido contributo para a construção da União Europeia.

A perda do sentido de Deus levou também à perda do sentido do homem:  do seu valor, do respeito que é devido à sua dignidade de pessoa, do respeito que se deve à vida humana e aos seus direitos inalienáveis, porque Deus é o fundamento da grandeza do ser humano e o “mistério do homem” só encontra a sua luz integral no mistério do Filho de Deus que se fez homem (cf. Lumen gentium, 22).Na Europa pluralista de hoje, composta de diversos povos com diferentes línguas, a mensagem cristã que não está vinculada a qualquer sistema político, social ou económico, e nem sequer a qualquer forma específica de cultura pode constituir, precisamente em virtude da sua universalidade, um verdadeiro elo de ligação entre as várias comunidades humanas e nacionais; pode tornar-se como no tempo de São Bento um instrumento de unificação e de colaboração no interior de uma Europa pluralista.

É necessária uma consciência nova, que saiba conservar uma herança de mais de quinze séculos, fazendo uma nova síntese dos valores das culturas contemporâneas. Muitos destes valores constituem uma expressão ou uma modalidade secularizada dos valores cristãos, que mergulham as suas raízes no Evangelho.A Europa de hoje tem necessidade de crentes conscientes da riqueza que a fé cristã oferece à sociedade do nosso tempo.A moeda única, alcançada com o euro, representa um passo importante, mas a Europa precisa de mais alguma coisa, ela tem necessidade de uma alma:  e a alma da Europa são os valores religiosos e os valores culturais, artísticos e históricos, acumulados ao longo dos séculos.A fé tem inclusivamente um papel social, porque o que é cristão é também autenticamente humano, e serve o bem comum de todos. Os pais fundadores da Europa unida (De Gasperi, Adenauer e Schumann) estavam profundamente convencidos disto.

A recordação de 21 de Março do ano 547, quando São Bento morreu aqui em Montecassino, torna-se também um apelo ao compromisso a fim de que, na Constituição que se está a delinear para a Europa, não falte uma referência às suas raízes cristãs, e para que nela venha a encontrar um espaço adequado o reconhecimento do papel das Igrejas e das Comunidades religiosas, de maneira a podermos ter uma União Europeia, espiritual e culturalmente unida, no respeito dos legítimos pluralismos.

Aqui, o vento da história recorda que todos os países europeus foram formados também pela civilização cristã, e que reconhecê-lo não significa impor algo, nem negar uma justa laicidade à norma da convivência, mas oferecer uma contribuição grande e importante para a construção da casa comum europeia, consolidando uma civilização atenta à compreensão mútua entre os povos.
Parece que aqui, em Montecassino, o sino da história está a tocar a rebate, em ordem a convidar para construir a Europa sobre aqueles valores que estão inscritos na história europeia, mas também estão impressos no coração e na  consciência  de  muitos  homens  e mulheres.

São Bento continue a iluminar o caminho  da  Itália,  da  Europa  e  da  humanidade.

Fonte:http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cbishops/documents/rc_con_cbishops_doc_20030321_battista-re-montecassino_po.html

 

XV CENTENÁRIO DO NASCIMENTO
DE SÃO BENTO E SANTA ESCOLÁSTICA

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

23 de Março de 1980

 I. Glória a Ti, ó Cristo, Verbo de Deus.

Glória a Ti cada dia neste período bem-aventurado que é a Quaresma. Glória a Ti no dia de hoje, dia do Senhor e quinto Domingo deste período.

Glória a Ti, Verbo de Deus, que te fizeste carne e te manifestaste com a tua vida e realizaste na terra a tua missão com a Morte e Ressurreição.

Glória a Ti, Verbo de Deus que penetras no íntimo dos corações humanos e lhes mostras o caminho da salvação.

Glória a Ti em todos os lugares da terra.

Glória a Ti nesta península entre os cimos dos Alpes e o Mediterrâneo. Glória a Ti em todos os lugares desta bem-aventurada região; glória a Ti em todas as cidades e aldeias, onde há quase 2.000 anos Te escutam os seus habitantes e caminham à Tua luz.

Glória a Ti, Verbo de Deus, Verbo da Quaresma, que é o tempo da nossa salvação, da misericórdia e da penitência.

Glória a Ti, por causa de um filho ilustre desta Terra.

Glória a Ti, Verbo de Deus, que neste lugar, nesta localidade chamada Núrsia, por um filho desta Terra — conhecido de toda a Igreja e do mundo sob o nome de Bento — foste escutado a primeira vez e foste acolhido como luz da própria vida e também da dos seus irmãos e irmãs.Verbo de Deus que não passarás nunca; na verdade, passaram já 1.500 anos a contar do nascimento de Bento, Teu confessor e monge, Fundador da Ordem, Patriarca do Ocidente, Patrono da Europa.

Glória a Ti, Verbo de Deus.

2. Permiti, caros Irmãos e Irmãs, que eu insira estas expressões de veneração e agradecimento nas palavras da liturgia quaresmal de hoje. A veneração e o agradecimento são o motivo da nossa presença hoje aqui, da minha peregrinação juntamente convosco ao lugar do nascimento de São Bento, completando-se 1.500 anos a partir da data deste nascimento.Sabemos que o homem nasce para o mundo graças a seus pais. Confessamos que, uma vez vindo ao mundo de progenitores terrestres, que são o pai e a mãe, ele renasce para a graça do Baptismo mergulhando na morte de Cristo crucificado, para receber a participação daquela Vida, que o próprio Cristo revelou com a sua ressurreição. Mediante a graça recebida no Baptismo, o homem participa no eterno nascimento do Filho originado no Pai, porque se torna filho adoptivo de Deus: filho no Filho.

Não se pode deixar de recordar esta verdade humana e cristã acerca do nascimento do homem, hoje, em Núrsia, no lugar do nascimento de São Bento. Ao mesmo tempo pode e deve dizer-se que, juntamente com ele, nascia em certo sentido nova época, nova Itália e nova Europa. O homem vem sempre ao mundo em determinadas condições históricas; também o Filho de Deus se tornou Filho do homem em certo período do tempo e nele deu início aos tempos novos que vieram depois dele. Igualmente em certa época histórica nasceu, em Núrsia, Bento que, graças à fé em Cristo, obteve a justiça que vem de Deus (Flp 3, 9 ), e soube enxertar esta justiça nas almas dos seus contemporâneos e dos vindouros.

3. O ano em que, segundo a tradição, veio à luz Bento, o de 480, segue muito de perto uma data fatídica, ou melhor fatal, para Roma: aludo ao ano de 478 depois de Cristo, em que, ao serem enviadas para Constantinopla as insígnias imperiais, o Império Romano do Ocidente, após longo período de decadência, teve o seu fim oficial. Desabou nesse ano certa estrutura política, isto é, um sistema que tinha, pouco a pouco, condicionado, por quase um milénio, o caminho e o desenvolvimento da civilização humana na área de toda a bacia do Mediterrâneo.

Reflictamos: o próprio Cristo veio ao mundo segundo as coordenadas — tempo, lugar, ambiente, condições políticas, etc. — criadas por este mesmo sistema. E também a cristandade — na história gloriosa e dolorosa da «Ecclesia primaeva», tanto na época das perseguições como na da liberdade que veio em seguida — se desenvoveu no quadro do «ordo Romanus», mais, desenvolveu-se em certo sentido, «apesar» de tal ordem, pois a cristandade tinha uma dinâmica sua própria, que a tornava independente de tal ordem e lhe consentia viver uma vida «paralela» ao seu desenvolvimento histórico.Também o chamado edito de Constantino de 313 não fez que a Igreja ficasse a depender do Império: se lhe reconheceu a justa liberdade «ad extra», depois das sanguinolentas repressões da idade anterior, não foi ele que lhe conferiu aquela igualmente necessária liberdade «ad intra», que, em conformidade com a vontade do seu Fundador, para ela deriva indefectivelmente do impulso de vida a ela comunicadó pelo Espírito. Também depois deste importante acontecimento, que marcou a paz religiosa, o Império romano continuou no seu processo de esfacela-mento: enquanto no Oriente o sistema imperial se pôde reforçar, embora com notáveis transformações, no Ocidente enfraqueceu-se por uma série de causas internas e externas — entre as quais o choque das migrações dos povos e a certo ponto deixou de ter força para sobreviver.

4. Na verdade, quando aqui em Núrsia veio ao mundo São Bento, não só «o mundo antigo se encaminhava para o fim» (Krasinski, Irydion), mas na realidade esse mundo estava já transformado: tinham sucedido os «Christiana Tempora». Roma, que em tempos fora a testemunha principal do poder de tal mundo e a cidade do seu maior esplendor, tinha-se tornado a Roma cristã. Em certo sentido, tinha sido verdadeiramente a cidade com que se tinha identificado o Império. Mas a Roma dos Césares passara. Ficara a Roma dos Apóstolos. A Roma de Pedro e de Paulo, a Roma dos Mártires, cuja memória estava ainda relativamente recente e viva. E, mediante esta memória, era viva a consciência da Igreja e era vivo o sentido da presença de Cristo, a quem tantos homens e tantas mulheres não tinham hesitado em dar testemunho mediante o sacrifício da própria vida.Eis, pois, que nasce em Núrsia Bento e cresce naquele clima especial, em que o fim da potência terrena, a maior das potências que se tinham manifestado no mundo antigo, fala ao espírito com a linguagem das realidades últimas, enquanto ao mesmo tempo falam Cristo e o Evangelho doutra aspiração, doutra dimensão da vida, doutra justiça, doutro Reino.Bento de Núrsia cresce nesse clima. Sabe que a verdade plena sobre o significado da vida humana, a expressou São Paulo, quando escreveu na carta aos Filipenses: Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em direcção à meta, para obter o prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Flp 3, 13-14).

Estas palavras tinha-as escrito o Apóstolo das gentes, o fariseu convertido, que dava deste modo testemunho da sua conversão e fé. Estas palavras reveladas contêm também a verdade que volta à Igreja e à humanidade nos diversos períodos da história. Naquele período, quando Cristo chamou Bento de Núrsia, estas palavras anunciavam o início de uma época que seria precisamente a época da grande aspiração «para o alto», no seguimento de Cristo crucificado e ressurgido. Exactamente como escreve São Paulo: assim poderei conhecê-l’O, a Ele, à força da Sua Ressurreição e à comunhão dos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos (Flp 3, 10-11).Assim portanto, além do horizonte da morte que sofreu todo o mundo construído sobre a potência temporal de Roma e do Império, levanta-se esta nova aspiração: a aspiração «para o alto», despertada pelo desafio da nova vida, o desafio apresentado ao homem ,por Cristo, juntamente com a esperança da ressurreição futura. O mundo terrestre — o mundo dos poderes e das derrotas do mundo — tornou-se o mundo visitado pelo Filho de Deus, o mundo sustentado pela cruz na prespectiva do futuro definitivo do homem que é a eternidade: o Reino de Deus.

5. Bento foi mais para a sua geração, e ainda mais para as gerações sucessivas, o apóstolo daquele Reino e daquela aspiração. Todavia a mensagem que ele proclamou mediante toda a sua Regra de vida, parecia e parece ainda hoje quotidiana, comum e quase menos «heróica» que a deixada pelos Apóstolos e Mártires sobre as ruínas da Roma antiga.Na realidade, é a mensagem mesma da vida eterna, revelada aos homens em Cristo Jesus, a mesma, se bem que pronunciada com a linguagem dos tempos agora diversos. A Igreja relê sempre o mesmo Evangelho Verbo de Deus que não passa — no contexto da realidade humana que muda. E Bento soube certamente interpretar com persicácia os sinais dos tempos de então, quando escreveu a sua Regra, na qual a união da oração e do trabalho se tornava, para aqueles que a aceitassem, o princípio da aspiração à eternidade. «Ora et labora» era, para o Grande Fundador do Monaquismo ocidental, a mesma verdade que o Apóstolo proclama na leitura de hoje, quando afirma ter deixado perder tudo por Cristo:

Em tudo isto só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu, Senhor, Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a Jim de ganhar Cristo e n’Ele ser achado (Flp 3, 8-9).

Bento, lendo os sinais dos tempos, viu que era necessário realizar o programa radical da santidade evangélica, expresso com as palavras de São Paulo, numa forma ordinária, nas dimensões da vida quotidiana de todos os homens. Era necessário que o heróico se tornasse normal, quotidiano, e que o normal, o quotidiano, se tornasse heróico.Deste modo ele, pai dos monges, legislador da vida monástica no Ocidente, tornou-se também indirectamente o pioneiro de nova civilização. Onde quer que o trabalho humano condicionava o desenvolvimento da cultura, da economia e da vida social, aí chegava o programa beneditino da evangelização, que unia o trabalho à oração e a oração ao trabalho.É necessário admirar a simplicidade de tal programa, e ao mesmo tempo a sua universalidade. Pode-se dizer que esse programa contribuiu para a cristianização dos novos povos do Continente europeu e ao mesmo tempo figurou também na base da história nacional dos mesmos, história que dura há mais de um milénio.

Deste modo, São Bento tornou-se, no decorrer dos séculos, o patrono da Europa: muitos anos antes de ser proclamado tal pelo Papa Paulo VI.

6. É Patrono da Europa nesta nossa época. É-o não só em consideração dos seus méritos particulares para com este continente, a sua história e a sua civilização, mas também se consideramos a nova actualidade da sua figura perante a Europa contemporânea.

Pode-se apartar o trabalho da oração e fazer daquele dimensão única da existência humana. A época contemporânea traz consigo essa tendência. Diferença-se dos tempos de Bento de Núrsia, porque então o Ocidente olhava para trás, inspirando-se na grande tradição de Roma e do mundo antigo. Hoje a Europa sofre as consequências da terrível segunda guerra mundial e as consequentes mudanças na carta do globo, que limitaram a dominação do Ocidente sobre outros Continentes. A Europa, em certo sentido, voltou para dentro das suas próprias fronteiras.Todavia, o que está para trás das nossas costas não é o objecto principal da atenção e da inquietação dos homens e dos povos. Tal objecto principal não deixa de ser o que está para diante de nós.Para que termo caminha a humanidade inteira, ligada com os múltiplos vínculos dos problemas e das recíprocas dependências, que se estendem a todos os povos e Continentes? para que termo caminha o nosso Continente, e sobre ele todos os povos e tradições que decidem da sua vida e da história de tantos países e tantas Nações?

Para que termo caminha o homem?

As sociedades e os homens no decorrer destes 15 séculos, que nos separam do nascimento de São Bento de Núrsia, tornaram-se os herdeiros ele uma grande civilização; os herdeiros das suas vitórias, mas também das suas derrotas; das suas luzes, mas também das suas trevas.

Tem-se a impressão de a economia dominar a moral, de a temporalidade dominar a espiritualidade.

Por um lado, a orientação quase exclusiva para o consumismo dos bens materiais tira à vida humana o sentido que lhe é mais profundo. Por outro lado, o trabalho está-se tornando em muitos casos constrangimento alienante para o homem, submetido aos colectivismos, e aparta-se, quase por força, da oração, tirando à vida humana a sua dimensão ultratemporal.

Entre as consequências negativas de semelhante insensibilização, perante os valores transcendentes, uma há que hoje preocupa de modo especial: consiste no clima cada vez mais generalizado de tensão social, que tão frequentemente degenera em episódios absurdos de feroz violência terrorista. A opinião pública está profundamente agitada e perturbada. Só a recuperada consciência da dimensão transcendente do destino humano poderá conciliar o esforço pela justiça com o respeito da sacralidade de qualquer vida humana inocente. Para isso, a Igreja italiana recolhe-se hoje em oração especial e bem sentida.Não se pode viver para o futuro sem reconhecer que o sentido da vida é maior que a temporalidade, que ele está acima desta. Se as sociedades e os homens do nosso Continente perderem o interesse por este sentido, devem reencontrá-lo. Podem, com este intento, andar para trás 15 séculos? Para os tempos em que nasceu São Bento de Núrsia?

Não, voltar para trás não podem. O sentido da vida devem encontrá-lo no contexto dos nossos tempos. Não é possível de outra maneira. Não devem nem podem voltar para trás, aos tempos de Bento, mas devem reencontrar o sentido da existência humana no exemplo de Bento. Só então viverão para o futuro. Trabalharão para o futuro. E morrerão na perspectiva da eternidade.Se o meu Predecessor Paulo VI chamou de Núrsia São Bento para ser o Patrono da Europa, é porque ele poderá contribuir para o objectivo proposto à Igreja e às nações da Europa. Faço sinceros votos para que esta peregrinação, ao lugar do seu nascimento, possa servir tal causa.

Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1980/documents/hf_jp-ii_hom_19800323_norcia_po.html

Regras do Glorioso Patriarca São Bento

CAPÍTULO 4 – Quais são os instrumentos das boas obras

[1] Primeiramente, amar ao Senhor Deus de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças.
[2] Depois, amar ao próximo como a si mesmo.
[3] Em seguida, não matar.
[4] Não cometer adultério.
[5] Não furtar.
[6] Não cobiçar.
[7] Não levantar falso testemunho.
[8] Honrar todos os homens.
[9] E não fazer a outrem o que não quer que lhe seja feito.
[10] Abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo.
[11] Castigar o corpo.
[12] Não abraçar as delícias.
[13] Amar o jejum.
[14] Reconfortar os pobres.
[15] Vestir os nus.
[16] Visitar os enfermos.
[17] Sepultar os mortos.
[18] Socorrer na tribulação.
[19] Consolar o que sofre.
[20] Fazer-se alheio às coisas do mundo.
[21] Nada antepor ao amor de Cristo.
[22] Não satisfazer a ira.
[23] Não reservar tempo para a cólera.
[24] Não conservar a falsidade no coração.
[25] Não conceder paz simulada.
[26] Não se afastar da caridade.
[27] Não jurar para não vir a perjurar.
[28] Proferir a verdade de coração e de boca.
[29] Não retribuir o mal com o mal.
[30] Não fazer injustiça, mas suportar pacientemente as que lhe são feitas.
[31] Amar os inimigos.
[32] Não retribuir com maldição aos que o amaldiçoam, mas antes abençoá-los.
[33] Suportar perseguição pela justiça.
[34] Não ser soberbo.
[35] Não ser dado ao vinho.
[36] Não ser guloso.
[37] Não ser apegado ao sono.
[38] Não ser preguiçoso.
[39] Não ser murmurador.
[40] Não ser detrator.
[41] Colocar toda a esperança em Deus.
[42] O que achar de bem em si, atribuí-lo a Deus e não a si mesmo.
[43] Mas, quanto ao mal, saber que é sempre obra sua e a si mesmo atribuí-lo.
[44] Temer o dia do juízo.
[45] Ter pavor do inferno.
[46] Desejar a vida eterna com toda a cobiça espiritual.
[47] Ter diariamente diante dos olhos a morte a surpreendê-lo.
[48] Vigiar a toda hora os atos de sua vida.
[49] Saber como certo que Deus o vê em todo lugar.
[50] Quebrar imediatamente de encontro ao Cristo os maus pensamentos que lhe advêm ao coração e revelá-los a um conselheiro espiritual.
[51] Guardar sua boca da palavra má ou perversa.
[52] Não gostar de falar muito.
[53] Não falar palavras vãs ou que só sirvam para provocar riso.
[54] Não gostar do riso excessivo ou ruidoso.
[55] Ouvir de boa vontade as santas leituras.
[56] Dar-se freqüentemente à oração.
[57] Confessar todos os dias a Deus na oração, com lágrimas e gemidos, as faltas passadas e [58] daí por diante emendar-se delas.
[59] Não satisfazer os desejos da carne.
[60] Odiar a própria vontade.
[61] Obedecer em tudo às ordens do Abade, mesmo que este, o que não aconteça, proceda de outra forma, lembrando-se do preceito do Senhor: “Fazei o que dizem, mas não o que fazem”.
[62] Não querer ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente sê-lo para que como tal o tenham com mais fundamento.
[63] Pôr em prática diariamente os preceitos de Deus.
[64] Amar a castidade.
[65] Não odiar a ninguém.
[66] Não ter ciúmes.
[67] Não exercer a inveja.
[68] Não amar a rixa.
[69] Fugir da vanglória.
[70] Venerar os mais velhos.
[71] Amar os mais moços.
[72] Orar, no amor de Cristo, pelos inimigos.
[73] Voltar à paz, antes do pôr-do-sol, com aqueles com quem teve desavença.
[74] E nunca desesperar da misericórdia de Deus.
[75] Eis aí os instrumentos da arte espiritual: [76] se forem postos em ação por nós, dia e noite, sem cessar, e devolvidos no dia do juízo, seremos recompensados pelo Senhor com aquele prêmio que Ele mesmo prometeu: [77] “O que olhos não viram nem ouvidos ouviram preparou Deus para aqueles que o amam”. [78] São, porém, os claustros do mosteiro e a estabilidade na comunidade a oficina onde executaremos diligentemente tudo isso.

Fonte:   http://www.osb.org.br/( de São Bento. Capitulo 4.Tradução e Notas de Dom João Evangelista Enout, OSB.)Regras

Biografia de São Bento – Vida e milagres

Introdução

 Houve um homem de vida venerável, Bento tanto pela graça quanto pelo nome, que desde a infância possuía um coração maduro. Superior, pelo seu modo de proceder, para sua pouca idade, a nenhum prazer sensual entregou seu coração, mas, pelo contrário, estando ainda nesta terra e podendo gozar livremente dos bens temporais, preferiu desprezar o mundo com suas flores, como ser já estivessem murchas. (p.69)

 Renuncia aos livros do mundo

 Nascido numa boa família de Núrsia, fora encaminhado a Roma para o estudo das Belas Letras. Vendo, porém, que muitos nesses estudos se deixavam arrastar para o despenhadeiro do vício, retirou logo o pé que quase pusera no limiar do mundo, no temor de que, pelo saber mundano que começava adquirir, viesse também ele a cair por inteiro no tremendo abismo. Desprezando pois, tais estudos, deixou a casa e os bens paternos, e, no desejo de agradar somente a Deus, pôs-se à procura do santo hábito do monarquismo. Retirou-se, assim, do mundo, doutamente ignorante e sabiamente inculto. (p.69-70)

 O primeiro milagre de São Bento e a decisão de viver no deserto

 Deixando, pois, os estudos das Letras, resolveu procurar um lugar deserto, seguido apenas pela ama de leite[1], que o amava com ternura…Um dia, a ama pediu às vizinhas que lhe emprestassem um crivo para limpar o trigo; tendo-o, porém, deixado descuidadosamente sobre a mesa, o crivo[2] caiu e se quebrou, ficando partido em dois pedaços. Logo que voltou e o encontrou nesse estado, a mulher começou a chorar muito, aflita por ver quebrada a vasilha que pedira emprestada. Quando o jovem Bento, que era piedoso e bom, encontrou a ama chorando, compadecido de sua dor, pegou os dois cacos do vaso, e, levando-os consigo, entregou-se à oração com lágrimas. Quando se ergueu da oração, viu junto de si o crivo de tal forma íntegro que nenhum vestígio se podia descobrir da fratura. Então,…consolou a ama, devolvendo-lhe são o vaso que levara em cacos. Este fato passou ao conhecimento de todos os habitantes do lugar e foi tido em tanta admiração, que penduraram à porta da igreja o crivo restaurado, a fim de que vissem, eles e seus descendentes, em que grau de perfeição o jovem Bento principiaria a graça da vida monástica…Bento, porém, amando mais sofrer as maldades que os louvores do mundo, e preferindo fatigar-se de trabalhos por Deus a ser alçado pelos favores desta vida, fugiu ocultamente da ama e foi para um lugar deserto denominado Subiaco, distante de Roma cerca de quarenta milhas…(p.71-72)

 Amizade Abençoada

 Quando para ali se encaminhava em fuga, encontrou certo monge de nome Romano, que lhe perguntou aonde ia. Quando ficou sabendo do seu desejo, Romano não só guardou segredo, mas ainda lhe prestou ajuda e deu o hábito da vida monástica, servindo-o no que podia. Chegado ao seu destino, o homem de Deus recolheu-se a apertadíssima gruta, onde morou três anos ignorado de todos, excetuando o monge Romano.

 Este ultimo vivia num mosteiro próximo, sob a regra do abade Adeodato, a cujo olhar piedosamente furtava algumas horas para levar a Bento, em determinados dias, a parte de pão que conseguira subtrair ao próprio consumo. Não havia caminho do mosteiro de Romano à gruta, por causa de alto rochedo que existia sobre a mesma. Romano, no entanto, do alto dessa pedra, costumava fazer descer o pão pendurado a uma corda comprida a que prendera uma campainha para que, ao ouvir-lhe o toque, o homem de Deus soubesse que era hora de sair da gruta para pegar o alimento que Romano fornecia. Um dia, porém, o antigo inimigo, invejando a caridade de um e a refeição do outro, quando viu descer o pão, jogou uma pedra e quebrou a campainha. Apesar disso, com os meios oportunos, Romano não desistiu de prestar o seu serviço. (p. 72-74)

 A Divina Providência e o dia da Páscoa

 O Senhor dignou-se de aparecer a certo presbítero, que morava longe e acabava de preparar, no dia de Páscoa, a própria refeição, e disse-lhe: “Tu te preparas pratos deliciosos, enquanto o meu servo em tal lugar é atormentado pela fome”. O sacerdote levantou-se imediatamente e no próprio dia da solenidade de Páscoa, com os alimentos que para si preparara, saiu na direção indicada, procurando o homem de Deus através dos montes escarpados, pelos vales e fossas do terreno, até que o achou escondido na gruta. Depois de rezarem, bendizendo a Deus Todo-Poderoso, os dois se assentaram. Após agradáveis conversas sobre a vida eterna, o recém-chegado disse estas palavras: “Vamos, comamos, porque hoje é Páscoa”. O homem de Deus respondeu-lhe: “Sei que é Páscoa, pois mereci a graça de te ver”.  Morando longe dos homens, Bento ignorava que a solenidade pascal era naquele dia.

 Então, o venerável presbítero disse de novo: “Em verdade hoje é Páscoa, o dia da Ressurreição do Senhor. De modo nenhum te fica bem jejuar, pois aqui fui mandado justamente para que juntos partilhemos as dádivas de Deus Todo-Poderoso”. Louvando, pois, o Senhor, tomaram alimento. E, terminada a refeição e a conversa, o presbítero voltou para a sua Igreja. (p.74-75)

 O testemunho de São Bento e a renuncia às vaidades do mundo

 Por esse mesmo tempo também alguns pastores o encontraram na gruta. Vendo-o entre arbusto, vestido de peles, julgaram a princípio que fosse um animal selvagem, mas, quando ficaram conhecendo o servo de Deus, muitos se converteram da sua mentalidade animal para a graça de uma vida piedosa. Assim o nome de Bento tornou-se conhecido pelos arredores e, desde então, ele começou a ser visitado por muitos que, trazendo-lhe o sustento para o corpo, levavam, em troca, nos corações, o alimento de vida que procedia dos lábios do santo. (p.75)

 A vitória sobre a tentação da carne

 Algum tempo atrás tinha visto uma mulher, que o espírito maligno lhe fazia voltar, agora, aos olhos da alma. Ora, essa lembrança da beleza da mulher, inflamou de tal modo o coração do servo de Deus, que ele mal podendo conter as chamas do amor em seu peito, pensava em abandonar o deserto, vencido pela paixão. Mas, de repente, tocado pela graça do alto, voltou a si, e vendo ao seu lado densas moitas de urtigas e espinhos, despiu-se e atirou-se nu sobre os espinhos pontudos e as urtigas abrasadoras. Aí se resolveu por tanto tempo, que, ao sair, estava com o corpo todo ferido. Assim, pelas da carne expulsou do corpo a chaga da alma, convertendo o prazer em dor. Queimando por fora, num justo castigo, apagou o fogo ilícito que o queimava por dentro. Venceu, pois, o pecado, porque transformou a natureza do incêndio.

 E a partir dessa época, como ele mesmo dizia aos discípulos, foi nele de tal modo dominada a tentação do prazer carnal, que nunca mais a sentiu. Muitos então, começaram a deixar o mundo para vir viver sob sua direção, já que, estando livre do mal da tentação, mereceu tornar-se mestre das virtudes. Por isso é que Moisés determina que os levitas prestem seus serviços a partir dos vinte e cinco anos, mas só depois dos cinqüenta, se tornem guardas dos vasos sagrados. (Nm 8, 24-26) (p.79-80)

 O copo de vidro quebrado com o sinal da cruz

 Havia, não longe dali, um mosteiro cujo abade falecera. Toda a comunidade foi ter, então, com o venerável Bento para pedir-lhe, com grande empenho, que se tornasse o seu superior. O santo recusou por muito tempo, predizendo que os seus costumes e os daqueles irmãos não poderiam harmonizar-se. Mas, vencido pelas súplicas deles, concordou. Uma vez como superior, impôs, naquele mosteiro, a observância da vida regular, a ninguém permitindo que, como antes, se desviasse para a direita ou para a esquerda, no caminho da vida monástica, fazendo o que não devi. Os irmãos que ele aceitara dirigir, revoltados com isso, puseram-se a acusar, em primeiro lugar, a si mesmos, por terem escolhido um tal homem como superior, pois a sua reta norma de vida ia de encontro à vida tortuosa deles. E vendo que, sob tal abade, o ilícito já não lhes era permitido, doía-lhes ter que abandonar os antigos hábitos e achavam muito duro ser forçados a adotar um novo modo de pensar em suas mentes envelhecidas. Por isso, alguns deles – já que aos maus é sempre pesada a vida dos bons – começaram a tramar a morte do abade. Tomaram, pois, a resolução de colocar veneno no seu vinho. Quando, segundo o costume monástico, apresentaram ao Pai, que estava sentado à mesa, a taça de vidro com a bebida mortífera para ser abençoada, Bento estendeu a mão e traçou o sinal da cruz. A este gesto, a taça, que estava a certa distância dele, estalou e fez-se em pedaços, como se ao invés da cruz lhe tivesse atirado uma pedra. O homem de Deus logo compreendeu que o vaso continha uma bebida mortal, pois não pode suportar o sinal da vida. Levantou-se no mesmo instante e, com o rosto sereno e o animo tranqüilo, convocou os irmãos, aos quais assim falou: “Deus Todo-Poderoso tenha compaixão de vós, irmãos! Por que quisestes fazer isto contra mim? Acaso não vos preveni que os vossos e os meus costumes não eram compatíveis? Ide, e procurai para vós um Pai de acordo com o vosso modo de ser, pois, daqui em diante, já não podereis contar comigo”. (p.82-84)

 O milagre da Obediência sem demora

 Um dia, quando o venerável Bento estava na cela, o menino Plácido, monge do santo homem, saiu para pegar água no lago. Mergulhando n´água, sem  cuidado, a vasilha que segurava, caiu ele também, atrás da mesma. A correnteza logo o levou para o meio do lago, à distancia da margem…O homem de Deus, embora na cela, no mesmo instante tomou conhecimento do acidente e chamou Mauro depressa, dizendo: “Irmã Mauro, corre! O menino que foi buscar água, caiu no lago e já está longe, levado pela correnteza!”

 Uma coisa admirável, então, jamais vista depois do apóstolo Pedro (cf. Mt 14, 29), aconteceu! Tendo pedido e recebido a benção, Mauro saiu apressado movido pela ordem do Pai e, pensando que ia por terra, correu sobre as águas até o ponto aonde chegara o menino arrastado pela correnteza.

 Então, agarrou o menino pelos cabelos e voltou depressa para terra firme. Logo que pisou na margem, voltando a si, olhou para trás e se deu conta que correra em cima das águas….Voltando ao Pai, contou-lhe o sucedido. O venerável Bento começou, então, a atribuir o acontecido não aos próprios méritos, mas à obediência de Mauro…O menino que fora tirado das águas, via sobre minha cabeça a melota do abade, e julgava que era ele que me tirava das águas. (p.98-99)

 São Bento se emociona ao saber da morte de seu perseguidor

 O inimigo de Bento morreu…O discípulo do homem de Deus chamado Mauro julgou que devia imediatamente anunciar o fato ao venerável Pai Bento, que apenas caminhara umas dez milhas, e disse-lhe: “Volta, pois o presbítero que te perseguia morreu”. Ao ouvi-lo, prorrompeu Bento em fortes lamentos, tanto pela morte do inimigo como pela alegria com que ela teve o discípulo. Em conseqüência disso, ele impôs uma penitência ao discípulo, pois este, ao contar o ocorrido, ousara alegrar-se pela morte do inimigo. (p.103)

 O incêndio imaginário da cozinha

 Então, pareceu oportuno ao homem de Deus que os irmãos cavassem a terra no mesmo lugar que estava a pedra. Ora, sucedeu que, cavando muito fundo, os irmãos encontravam um ídolo de bronze. Atiraram-no logo para longe, indo o mesmo cair por acaso na cozinha; em conseqüência, viu-se de repente sair fogo do lugar, e pareceu aos olhos de todos que o prédio da cozinha era devorado pelas chamas. Como, jogando água para apagar o fogo, fizessem  grande barulho, o homem de Deus, atraído pelo ruído, aproximou-se. Considerando, então, que o fogo estava somente nos olhos dos irmãos e não nos seus, baixou logo a cabeça em oração, e, chamando a si os irmãos que estavam iludidos com o incêndio imaginário, fez com que estes percebessem com os próprios olhos que o prédio da cozinha estava intacto…(p.110-111)

 A Ressurreição do jovem monge esmagado pela queda da parede

 Doutra vez, quando os irmãos, obedecendo a uma exigência da construção, levantaram um pouco mais certa parede, o homem de Deus conservava-se na cela, aplicado à oração…Assim…o homem de Deus mandou-lhes a toda pressa um mensageiro, dizendo: “Irmãos, agi com cautela, pois agora mesmo vai ter convosco o espírito maligno”. Mal o mensageiro acabara de falar e já o mau espírito derrubara a parede em obras e sob os seus escombros esmagara um jovem monge…Consternados todos e cheios de aflição, não pelo prejuízo da parede mas pelo esmagamento do irmão, correram a contar com profunda dor o desastre ao venerável Pai Bento. Este ordenou que lhe levassem o corpo dilacerado do rapaz. Só puderam levá-lo num manto, pois as pedras da parede lhe tinham triturado não só os membros mas também os ossos. O homem de Deus mandou no mesmo instante que o pusessem em sua cela…A seguir, despediu os irmãos, fechou a cela e entregou-se à oração mais instantemente que de costume. E, coisa admirável! Na mesma hora, mandou são e salvo como antes ao trabalho, para que terminasse de levantar a parede com os irmãos…(p.111-112)

 O rapaz curado da lepra

 Também não quero passar em silêncio o que ouvi do ilustre Antônio. Este contava que um servo de seu pai fora atacado pela lepra, a ponto de já se lhe intumescer a pele, caírem os pelos, e não poder ele esconder o pus cada vez mais abundante. Mandado ao homem de Deus pelo pai de Antônio, o enfermo recuperou imediatamente a saúde perdida. (p.148)

 O camponês liberto só pelo olhar de Bento

 No templo de Tótila,…um destes, chamado Zala, partidário da heresia ariana, a tal ponto de crueldade ardia contra os que eram fiéis à Igreja Católica, que não houve um só clérigo ou monge que tendo-o encontrado, escapasse vivo de suas mãos. Inflamado, certo dia, pela avareza e a avidez da rapina, pôs-se a torturar com crueldade um camponês para lhe extorquir o que tinha. Ora, este, vencido pela dor diante de tantos suplícios, declarou-lhe que havia depositado todos os bens em mãos do servo de Deus, Bento…. Indo à frente, de braços amarrados, o camponês  conduziu Zala ao mosteiro do santo homem, que encontraram sozinho a ler, sentado à porta do mosteiro. Disse, então, o camponês a Zala, que cheio de raiva o seguia: “Eis aí o Pai Bento, de quem te falei”…Zala, pôs os olhos no homem de Deus e, pensando poder agir com o terror costumeiro, começou a gritar-lhe: “Levanta-te, levanta-te, e devolve os bens que recebeste deste camponês!”

  À sua voz, o homem de Deus ergueu os olhos da leitura e, tendo encarado Zala, olhou em seguida para o camponês, que continuava amarrado. Apenas, porém, colocou os olhos nos braços deste, as correias que os prendiam, começaram a desamarrar-se de modo maravilhoso e com tanta rapidez que teria sido impossível ao mais ágil dos homens desatá-las tão depressa. Quando aquele que viera amarrado, de repente apareceu solto, Zala, tremendo diante de tanto poder, caiu no chão, e inclinando aos pés de Bento a cabeça cruel, recomendou-se às suas orações. Nem por isso o santo homem se levantou da leitura, mas, tendo chamado os irmãos, mandou que o introduzissem no mosteiro para dar-lhe um pouco de pão bento. Quando Zala voltou à presença do santo, este exortou-o a parar com tanta crueldade e insensatez. Zala, retirando-se desconcertado, nada mais ousou exigir do camponês que o homem de Deus, sem toca, mas apenas pelo olhar, tinha libertado. (P.154-156)

 Santa Escolástica: a irmã gêmea de São Bento

 A Irma de Bento, de nome Escolástica, consagrada desde a infância a Deus onipotente, tinha o costume de visitar o irmão uma vez por ano. O homem de Deus descia a recebê-la numa propriedade do mosteiro, não longe da portaria. Foi ela, pois um dia, como de costume, e seu venerável irmão, acompanhado de alguns discípulos, desceu a vê-la. Passaram o dia todo em louvores de Deus e em santos colóquios, e, ao anoitecer, juntos tomaram alimento. Quando ainda estavam à mesa entre santas conversações e ia ficando tarde, a monja irmã de Bento pediu-lhe o seguinte: “Por favor, irmão, não me deixes esta noite, para podermos falar até a manhã das alegrias da vida celeste”. Ao que ele respondeu: “Que dizes, irmã? Ficar fora do mosteiro, de modo nenhum o posso!”…Ouvindo a recusa do irmão, a monja cruzou as mãos sobre a mesa e nelas inclinou a cabeça para orar a Deus. Quando levantou a cabeça, rebentaram tão violentos relâmpagos e trovoes e desabou tão forte chuva, que nem o venerável Bento nem os irmãos que com ele se achavam, puderam pôr o pé fora da soleira da porta do lugar onde estavam. A monja, com efeito, ao reclinar a cabeça nas mãos, derramara sobre a mesa rios de lágrimas, mediante as quais conseguiu transformar em tempestade a serenidade do tempo…

 Vendo, então, o homem de Deus que não podia voltar ao mosteiro no meio dos raios, trovões e da grande enxurrada, começou a lamentar-se entristecido, dizendo: “Que Deus todo-poderoso te perdoe, irmã! Que fizeste?” E ela disse: “Eis que te pedi, e não me quiseste ouvir; pedi, então, ao meu Senhor e Ele ouviu-me. Agora, pois, se podes, sai, deixa-me e volta para o mosteiro”. De fato, não podendo sair, aquele que não quis ficar de bom grado, teve de permanecer contra a vontade. Assim aconteceu que passaram a noite em vigília, e … em santas conversas sobre a vida espiritual. (p.161-163)

 A visão da morte de sua irmã Santa Escolástica

 No dia seguinte a venerável mulher voltou ao próprio mosteiro, e o homem de Deus ao seu. Eis, porém, que três dias depois, Bento na cela, elevando os olhos às alturas, viu a alma da irmã sair do corpo e entrar nas profundezas misteriosas do céu, sob forma de uma pomba. Enchendo-se, então, de alegria pela grande glória da irmã, com hinos e louvores rendeu graças a Deus todo-poderoso e anunciou aos irmãos a morte desta. Mandou-os também sem demora a buscar no mos o corpo, a fim de que o enterrassem na sepultura que tinha preparado para si. Assim, nem a sepultura separou os corpos daqueles cujo espírito sempre estivera unido em Deus. (p.164-165)

 A morte de São Bento

 Seis dias antes da sua morte, mandou abrir a sepultura. Pouco depois, atacado de febres, começou a ser atormentado pela violenta temperatura. Como dia a dia se agravasse o mal, no sexto dia fez-se levar ao oratório pelos discípulos. Aí, muniu-se para a partida, com a comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor. A seguir, apoiando nos braços dos discípulos os membros enfraquecidos, ficou de pé, com as mãos elevadas para o céu, e entre palavras de oração exalou o último suspiro. No mesmo dia, foi comunicada a dois irmãos, dos quais um estava no mosteiro e o outro distante, igual visão: ambos viram um caminho forrado de tapeçarias e… de inumeráveis luzes, que se estendia do mosteiro ao céu, na direção do oriente. No topo, estava um homem de venerável e resplandecente aspecto, que lhes perguntou que caminho era aquele que contemplavam. Eles confessavam que ignoravam. Então, ele lhes disse: “Esse é o caminho pelo qual Bento, o amado do Senhor, subiu ao céu”. Assim aconteceu que, tal como os discípulos presentes viram a morte do santo homem, também os ausentes dela tiveram conhecimento, pelo sinal que lhes fora predito. Foi sepultado na capela de São João Batista, que ele próprio constuíra no lugar onde ficava o altar de Apolo, por ele destruído. (p.178-179)

Fonte: São Bento: Vida e Milagres – São Gregório Magno- Edições Subiaco.

 [1] Ama-de-leite é a mulher que amamenta criança alheia quando a mãe natural está impossibilitada de fazê-lo.

[2] Era uma rústica cuia de madeira muito fina…que permitiam limpar o trigo como se faz com a peneira.

 A Medalha de São Bento

Conta-se,por volta do ano 1647,  que feiticeiras da Baviera, acusadas de suas maldades contra o povo daquela região, confessaram ver seus feitiços inteiramente anulados pelo poder da Cruz; e que em todos os lugares, aonde estivesse a Santa Cruz, seus malefícios nunca tinham efeito.Contaram ainda que, especialmente no Mosteiro de Metten, nunca conseguiram êxito em suas maldades e concluíam que isto se devia ao fato da existência de alguma Cruz naquele lugar.

Por causa disto, as autoridades locais foram consultar os monges da Abadia de Metten sobre o assunto. Depois de muito procurarem, localizaram de fato que o mosteiro era repleto de cruzes gravadas nas paredes e com uma inscrição acima. Era preciso descobrir o porque e por quem as cruzes foram gravadas.Suas investigações os levaram à biblioteca, a um antigo livro escrito por ordem do Abade Pedro, no ano de 1415. O livro transcrevia antiqüíssimos, entre eles vários sobre a Cruz, com inúmeros desenhos a bico de pena realizado por um monge anônimo.

Um destes desenhos era justamente São Bento tendo na mão direita um bastão em forma de Cruz, e acima do bastão estava o texto: CRUX SACRA SIT MIHI LUX NO DRACO SIT MIHI DUX, e da outra mão sai uma flâmula com as frases: VADE RETRO SÁTANA NUMQUAM SUADE MIHI VANA, SUNT MALA QUAE LIBAS IPSE VENENA BIBAS (A cruz sagrada seja minha luz, não seja o dragão meu guia.Retira-te, satanás, nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos).

A medalha é eficaz no combate direto a satanás, às tentações, contra doenças e picadas de animais como cobras e na proteção de automóveis.

 

 Oração:

A Cruz Sagrada seja a minha luz,Não seja o dragão o meu guia.

Retira-te Satanás,Nunca me aconselhes coisas vãs.É mal o que tu me ofereces,

Bebe tu mesmo os teus venenos. 

 A Medalha de São Bento, onde está gravada esta famosa oração, é considerada um sacramental, quer dizer, um sinal poderoso de fé. Diz-se que o uso da medalha protege contra as artes do demônio e concede graças, como a vitória sobre os inimigos e, é claro, sobre a tentação.Na frente da medalha aparece uma cruz e as letras C S P B gravadas. Estas letras são abreviações da frase em latim: Cruz Sancti Patris Benedicti ou Cruz do Santo Pai Bento.Na haste vertical da cruz estão gravadas as letras: C S S M L que significam Crux Sacra Sit Mihi Lux ou A cruz sagrada seja minha luz. Na haste horizontal, as iniciais N D S M D: Non Draco Sit Mihi Dux ou Não seja o dragão (demônio) meu guia.No alto da cruz está gravada a palavra PAX ou Paz, que é o lema da Ordem de São Bento.

Procure a partir da direita da palavra PAX, as iniciais: V R S N S M V que significam Vade Retro Sátana Nunquam Suade Mihi Vana ou Retira-te, satanás, nunca me aconselhes coisas vãs.E as letras S M Q L I V B: Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas ou É mau o que me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos.A imagem de São Bento aparece no verso da medalha. Ele segura na mão esquerda o livro da Regra que escreveu para os monges chamados beneditinos.

Na outra mão, ele segura a Cruz.Ao redor da medalha, lê-se Eius in Obitu nro Praesentia Muniamur , que quer dizer: Que São Bento nos conforte na hora da nossa morte.

 Fonte: http://blog.cancaonova.com/paulovictor/2008/07/11/a-medalha-de-sao-bento/

 

São Bento, Rogai por nós!